Efeitos individuais e familiares em crimes: Abuso sexual, violência conjugal e homicídio
Abstract
Entre as diversas explicações sobre a carreira delinquente a família ocupa um lugar de eleição (Born, 2005). Apesar da literatura nos indicar que a família assume um papel crucial, existem outros autores (e.g. Mayer & Salovey, 1997), que evidenciam que a falta de aprendizagem de um repertório emocional adequado, nomeadamente a inteligência emocional, pode, por vezes, estar associada à origem do comportamento delinquente. A Teoria Geral do Crime (Gottfredson & Hirschi, 1990), pretende explicar que o autocontrolo é a variável central do comportamento delinquente.
Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre o funcionamento familiar (rácio total, coesão e flexibilidade), o autocontrolo e a inteligência emocional em sujeitos condenados pelos crimes de abuso sexual, violência doméstica e homicídio.
Participaram 92 sujeitos, reclusos, do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 20 e os 73 anos de idade.
Mediante os resultados constatamos que os participantes têm uma percepção semelhante da forma como se organizam as suas famílias, excepto na comunicação, onde os abusadores sexuais apresentam indicadores comunicativos inferiores. Ao nível da expressão emocional e da capacidade para lidar com as emoções também, foram encontradas diferenças significativas, sendo os abusadores sexuais a apresentarem maiores défices emocionais. No autocontrolo, foram igualmente os abusadores sexuais a apresentarem maiores níveis de autocontrolo. Limitações e implicações práticas e teóricas deste estudo são discutidas com base na literatura.
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