Os efeitos dos maus-tratos e da negligência sobre as representações da vinculação em crianças de idade pré-escolar.
Abstract
A presente investigação tem como objectivo esclarecer a influência dos maus-tratos e da negligência, ocorridos durante a infância, sobre as representações da vinculação em crianças de idade pré-escolar (3 a 6 anos). Com este trabalho, pretende-se também contribuir para o esclarecimento da influência do género da criança sobre a adopção de estratégias não seguras de vinculação e determinar a importância, na minimização dos efeitos que os maus-tratos ou a negligência (perpetrados pelos cuidadores), que a relação com um adulto significativo não maltratante ou negligente pode ter sobre o sistema de vinculação. As crianças vítimas de maus-tratos (N=20) ou de negligência (N=40) foram identificadas através de Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) da periferia de Lisboa. As crianças do grupo “controlo” frequentavam o ensino pré-escolar ou Actividades de Tempos Livres (ATL) em Instituição Particular de Solidariedade Social do concelho de Almada. Procurou-se o emparelhamento das amostras em relação ao nível socio-económico, às competências verbais, ao género e à idade. A distinção, em termos do tipo de abuso sofrido, foi feita com o recurso ao Questionário de Maus-tratos e de Negligência (Calheiros, 1996) adaptado para este estudo. A garantia de homogeneidade das amostras em termos de competências verbais foi assegurada pelo uso da Escala de Audição e Fala da Prova de Desenvolvimento de Griffiths (1970). O instrumento de avaliação das representações da vinculação utilizado foi a Tarefa de Completamento de Histórias (ASCT) concebida por Bretherton, Ridgeway, e Cassidy (1990), classificada de acordo com a metodologia Q-Sort proposta por Miljkovitch, Pierrehumbert, Karmaniola, e Halfon (2003).
Os resultados obtidos neste estudo indicam que as crianças maltratadas ou negligenciadas em idade pré-escolar tendem a adoptar estratégias inseguras de vinculação (desactivadas, hiperactivadas ou desorganizadas), recorrendo menos à estratégia segura, quando comparadas com crianças que não foram vítimas de maus-tratos ou de negligência. Não se encontraram diferenças, entre o grupo de crianças maltratadas e o grupo de crianças negligenciadas. Também não se verificaram diferenças significativas, em função do género das crianças nem em função da existência de relações com outros adultos significativos não maltratantes ou não negligentes, no desenvolvimento de estratégias de vinculação inseguras. Os resultados são discutidos com base na Teoria da Vinculação, sendo também feitas algumas propostas de investigação futura.
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PDF (Português (Portugal))DOI: https://doi.org/10.14417/ap.40
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