Conhecimentos, modelos, e raciocínio condicional

Ana Cristina Quelhas, P. N. Johnson-Laird

Abstract


A interpretação de frases, e em particular a interpretação de frases condicionais, pode ser modulada quer pelo significado das mesmas, pelos referentes, ou pelos conhecimentos gerais. O presente estudo examina o efeito pragmático dos conhecimentos no raciocínio a partir de pares de premissas condicionais. De acordo com a teoria dos modelos, inferências com a mesma forma, mas com conteúdos diferentes, deverão gerar um padrão de inferências diferente. Consideremos as seguintes premissas: Se a Maria não está em Paris, então ela está em França. Se a Maria está em França, então ele é estudante. A primeira premissa explora a inclusão espacial (Paris é em França), pelo que numa possibilidade Maria não está em Paris mas está em França, e noutra possibilidade Maria está em Paris e portanto está também em França. Assim, é impossível a Maria não estar em França, pelo que os indivíduos tenderão a inferir a partir da segunda premissa que ela é estudante. Em contraste, se considerarmos as seguintes premissas, que tem a mesma forma que as do exemplo anterior, mas um conteúdo diferente: Se o João não está em Roma, então ele está em França.

Se o João está em França, então ele é estudante. A primeira premissa explora a exclusão espacial (Roma não é em França), pelo que numa possibilidade João não está em Roma e está em França, e noutra possibilidade ele está em Roma e não está em França. Assim, os indivíduos não têm nenhuma base para a inferência categórica de que ele é estudante, e deverão tender para a conclusão condicional de que Se o João não está em Roma então ele é estudante. Os problemasde inclusão geram menos possibilidades do que os problemas de exclusão, pelo que a teoria dos modelos prediz que os problemas de inclusão deverão ser mais fáceis do que os problemas de exclusão.

O artigo relata duas experiências que corroboram as previsões da teoria dos modelos. Na Experiência 1, os participantes dão mais conclusões categóricas nas premissas de inclusão, mas apenas algumas conclusões condicionais nas premissas de exclusão. De facto, comas premissas de exclusão, obtém-se muitas conclusões outras. Para evitar isso fizemos uma segunda experiência, onde os participantes escolhem a conclusão a partir de quatro que são fornecidas: conclusão categórica; conclusão condicional; ambas; nenhuma (ao contrárioda Experiência 1, onde os participantes escreviam a conclusão). A Experiência 2 replica a superioridade de conclusões categóricas com as premissas de inclusão, e encontra a superioridade de conclusões condicionais com as premissas de exclusão.


Keywords


raciocínio condicional; conhecimentos; modelos mentais



DOI: https://doi.org/10.14417/ap.189

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